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9 de março de 2023 - 26 minutes

A desigualdade de género na tecnologia... Vamos falar sobre isto

A desigualdade de género na tecnologia é bastante abrangente e necessita de esforços sociais e pessoais para ser resolvida. 

Juliette Erath - Tech Writer

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Com frequência ouvir-nos-á a falar da imensidão da indústria da tecnologia (naturalmente), que é algo no qual acreditamos veemente. É um lugar onde vemos todos os tipos de pessoas a construir uma carreira dos seus sonhos, sem olhar para o seu contexto, para a sua situação socioeconómica, para a demografia ou até para a sua personalidade. 

Porém, seria negligente da nossa parte falar do estado da indústria de tecnologia e não incluir o problema prevalecente da desigualdade de género na mão de obra. Para além das implicações sociais óbvias que esta área, maioritariamente dominada por homens, tem, a desigualdade de género também afeta a política no geral, a economia e os comportamentos culturais. A verdade é que o local de trabalho e a desigualdade de competência na indústria da tecnologia podem ser amplamente atribuídos à vasta desigualdade de género. Para responder a esta desigualdade que já é internacional e que é crescente, é necessário fazer verdadeiros esforços para compreender a origem deste problema e resolvê-lo. 

Vemos que se fazem esforços neste campo de batalha todos os dias em todos os cantos da nossa comunidade nos EUA, na Europa e na América do Sul. O que não faz sentido é combater um problema que realmente não se compreende. Portanto, a nossa intenção é observar o estado atual da desigualdade de género na tecnologia, perceber onde está a raiz do problema e perspetivar futuras soluções.

Sexismo e discriminação de género

A indústria da tecnologia não é a única a enfrentar desafios na diversidade. Longe disso! O sexismo e a discriminação de género são histórias da carochinha já bem antigas, infelizmente.

O sexismo é um conceito complicado, mas é composto pela crença de que há um sexo ou género superior a outro. A discriminação de género, por outro lado, descreve um tipo de discriminação com base na identidade de género da pessoa. Este tipo de discriminação, que historicamente é associado a dar preferência aos homens, tem efeitos drásticos. A sociedade é fortemente influenciada por expetativas relativas ao género, que são capazes de alterar escolhas de carreira, opções de local de trabalho, a forma como agimos, o que devemos estudar e muito mais. 

Um dos exemplos mais claros dos efeitos de expetativas da sociedade com base no género é o local de trabalho. Tanto o homem como a mulher são fortemente influenciados nas suas escolhas de carreira por aquilo que lhes ensinam que a sociedade espera deles. 97,78% dos enfermeiros ou auxiliares de saúde, 95,65% dos secretários jurídicos, 89,09% dos dançarinos e coreógrafos e 88,45% dos rececionistas são mulheres. Por outro lado, 99,19% dos técnicos de veículos, 98,97% dos carpinteiros e marceneiros, 96,4% dos técnicos eletricistas ou dos técnicos de eletrónica e 95,38% dos engenheiros de telecomunicações são homens. 

Mas estas discrepâncias enormes em determinados trabalhos não são a única coisa a considerar. Mundialmente, há uma desigualdade salarial entre géneros de 20%, ou seja, as mulheres recebem, em média, menos 20% do que os homens. Estes dados são naturalmente exagerados consoante as verdadeiras funções exercidas por homens e mulheres. Se os cargos de alto nível e com melhor rendimento forem ocupados maioritariamente por homens, é normal que sejam eles a receber mais. Contudo, infelizmente, essa não é a única razão. 

  • Como mencionámos anteriormente, as mulheres têm tendência a trabalhar em setores que pagam menos do que as indústrias dominadas por homens.

  • As funções de liderança têm tendência a serem ocupadas por homens.

  • Os homens são promovidos com mais frequência.

  • Em todos os países, a nível mundial, as mulheres recebem menos do que os homens, se trabalharem na mesma função.

  • As mulheres enfrentam uma grande pressão quando engravidam ou escolhem ficar em casa com os seus filhos.

  • E assumem imensos trabalhos que não são remunerados, tais como cuidar de crianças e cuidar de familiares doentes.

As diferenças entre os homens e as mulheres vêm de séculos de crenças patriarcais que colocam os homens numa posição de poder em relação às mulheres. Na maior parte do mundo atualmente, a desigualdade entre homens e mulheres já diminuiu consideravelmente. Era comum os homens terem controlo total sobre a abertura de contas bancárias, a condução, a roupa, o acesso à saúde e à educação e ao direito de voto da mulher.

Mesmo que a maioria de nós não se recorde de um caso semelhante aos acima mencionados de discriminação de género na sua vida, há ainda grandes problemas relacionados com a igualdade de género na sociedade de hoje. Isto afeta toda a gente. Só 50% das mulheres constituem a mão de obra mundial, comparando com os 80% de homens. 

Desigualdades de género 

Para medir a desigualdade de género em cada país, o Global Gender Gap Index [Índice Global de Desigualdade de Género] anual, feito pelo Fórum Económico Mundial recorre a quatro categorias principais para determinar o nível de desigualdade de género de um país: a participação e as oportunidades económicas, a obtenção escolar, saúde e sobrevivência e capacitação política. Os países recebem uma pontuação de 0 a 100 em cada secção, sendo que 100% significa que a paridade de género foi atingida. 

Participação e oportunidades económicas 

Nesta secção, são avaliados cinco fatores: taxa de participação na força de trabalho, igualdade salarial em cargos semelhantes, rendimento estimado, legisladores, quadros superiores e gestores, e trabalhadores profissionais e técnicos. O relatório demonstrou que, em média, as economias com rendimentos mais altos obtiveram uma pontuação de 69%, as com rendimentos médio-altos de 68%, as com rendimentos médio-baixos de 63% e as com rendimentos baixos de 66%. 

A igualdade de género está ligada às oportunidades económicas e os países com economias com um desempenho mais elevado têm uma pontuação ligeiramente melhor. 

Obtenção escolar 

Esta secção define a taxa de literacia e a entrada no ensino básico, secundário e superior. Neste nível, 29 países puderam gabar-se de ter paridade de género em três níveis económicos diferentes. As taxas mundiais vão de 48% a 100% e à medida que o relatório chega a países com uma pontuação mais baixa, a desigualdade é ainda maior. 

Saúde e sobrevivência 

Este índice recorre ao rácio de sexo à nascença e a esperança média de vida saudável para produzir a secção com a menor variação e a menor desigualdade de género. Nenhum país chegou à paridade, mas 141 diminuíram a desigualdade de género em, pelo menos, 95%: o Qatar, o Paquistão, o Azerbaijão, a China e a Índia são os únicos países com uma desigualdade de género superior a 5%.

Capacitação política 

As mulheres em posições parlamentares e ministeriais e os anos com chefes de estado mulheres (nos últimos 50 anos) são avaliados para definir a desigualdade de género relativamente à capacitação política. Esta é a secção que tem a maior desigualdade com uma percentagem global de 22%. A variedade aqui é também enorme, sendo que o país com a pontuação mais baixa é o Vanuatu, com 0%, e o país com a pontuação mais alta é a Islândia com 87%. Apenas 11 países diminuíram a sua desigualdade de género para mais de 50%: Finlândia, Noruega, Nova Zelândia, Nicarágua, Costa Rica, Ruanda, Alemanha, Bangladesh, Suécia, Irlanda e África do Sul. Só 39% dos países estão acima da média mundial, ou seja, 60% estão abaixo da média. 

O caminho das Nações Unidades para a igualdade de género 

As Nações Unidas criaram objetivos para o desenvolvimento sustentável para serem atingidos até 2030, tendo a igualdade de género como o quinto. As prioridades da ONU, no que toca a chegar à igualdade de género, são compostas por nove passos: 

  1. Acabar com todas as formas de discriminação contra todas as mulheres e raparigas, em todo o lado. 

  2. Eliminar todas as formas de violência contra todas as mulheres e raparigas em todo o lado, incluindo o tráfico e exploração sexual. 

  3. Eliminar todas as práticas nocivas com base no género, como os casamentos prematuros ou forçados, bem como as mutilações genitais femininas. 

  4. Reconhecer e valorizar o trabalho de assistência e doméstico não remunerado através da disponibilização de serviços públicos e políticas de proteção social que promovem a responsabilidade parental partilhada.

  5. Garantir a participação plena e efetiva das mulheres e a igualdade de oportunidades para a liderança em todos os níveis na vida política, económica e pública. 

  6. Assegurar o acesso universal à educação de saúde sexual e reprodutiva e os direitos reprodutivos.

  7. Realizar reformas para dar às mulheres direitos iguais aos recursos económicos, bem como o acesso à propriedade e controlo sobre a terra, serviços financeiros, herança e recursos naturais. 

  8. Usar tecnologia para promover a capacitação das mulheres. 

  9. Adotar e fortalecer políticas e legislação para promover a igualdade de género de todas as mulheres e raparigas.

A desigualdade de género na tecnologia

A exclusão social com base no género tem efeitos graves na sociedade e na indústria tecnológica. 

“Os obstáculos ao acesso e à acessibilidade à (falta de) educação, às competências e à literacia tecnológica, e os preconceitos de género inerentes e as normas socioculturais são a origem da exclusão digital com base no género. Um maior acesso, mais seguro e mais acessível a ferramentas digitais é tão crucial como as intervenções de política que tratam dos preconceitos estruturais de longo prazo.”

O primeiro assunto relativo à igualdade de género é as suas implicações éticas e justas. Na verdade, um mundo com mais igualdade poderia trazer benefícios em várias áreas, em especial a economia global. Os estudos mostram que uma menor desigualdade de género melhora o PIB global, aumenta a produtividade e promove a inovação. Precisa de mais argumentos? As mulheres que são capacitadas já demonstraram ser capazes de: 

  • Aumentar os gastos do consumidor

  • Melhorar os processos de tomada de decisões

  • Encorajar as sociedades mais inclusivas 

  • Aumentar os esforços para a sustentabilidade

O Fundo Monetário Internacional revela que: 

“Sabemos que, se os países com maior desigualdade de género diminuíssem a disparidade na participação das mulheres na força de trabalho, seria possível aumentarem a produção económica até, em média, 35% [...]. Na Noruega, a expansão dos cuidados infantis universais aumentou a probabilidade do emprego das mães em 32 pontos percentuais.”

O Gender Employment Gap Index (GEGI) [Índice de Desigualdade Profissional de Género], do Banco Mundial, informa que, se a desigualdade de género diminuísse e se os homens e mulheres tivessem acesso igual a empregos pagos, o PIB per capita poderia aumentar até quase 20%. Especificamente na tecnologia, a desigualdade de género é bastante vasta em quatro áreas: utilização e acesso à Internet, competências e ferramentas digitais, participação em STEM e liderança e empreendedorismo no setor da tecnologia. 

A desigualdade de género e a utilização da Internet 

A utilização da Internet é muito importante para fornecer mais oportunidades às mulheres na tecnologia e noutras áreas. A Europa e o continente americano têm a maior taxa de utilização de Internet e já atingiram a paridade de género ou estão muito perto disso. Porém, quase metade da população mundial não tem acesso à Internet. A maioria deste grupo é composto por mulheres em nações subdesenvolvidas. 

O acesso universal à Internet é um dos ODS da ONU e é absolutamente essencial para diminuir esta desigualdade. O acesso a nível mundial poderia fornecer opções educativas, mais saúde e mais oportunidades às mulheres. 

A desigualdade de género e as competências digitais 

As competências digitais não são necessárias apenas para trabalhos tecnológicos. Toda as pessoas devem ter competências sociais para participar completamente na sociedade e aceder aos serviços financeiros, às oportunidades educativas, aos serviços de saúde, entre outros. Não obstante, a desigualdade de género poderia ser ainda menor, se as mulheres tivessem as mesmas competências digitais avançadas para cobrir as desigualdades no mercado tecnológico. Como relata a Digital SME Alliance

“As desigualdades de género são mais acentuadas em competências tecnológicas disruptivas, que são fortemente solicitadas em setores emergentes como a IA, a robótica e computação em nuvem. De acordo com o Fórum Económico Mundial, as mulheres ocupam apenas 26% dos trabalhos de IA mundialmente. A situação é ainda mais desastrosa no que toca à nuvem e aos dados, onde os números são de 15% e 12% respetivamente.”

A economia digital está a avançar rapidamente e os profissionais da tecnologia são necessários em praticamente todas as indústrias. Assegurar o acesso a competências digitais ajudará a atingir a paridade de género e a melhorar a economia global. 

A desigualdade de género e participação em áreas STEM 

Em termos mundiais, as mulheres já quase que chegaram à paridade em termos de estudos: licenciaturas (45%-55%), pós-graduação (53%) e doutoramento (43%). Contudo, estes números constituem apenas 35% dos estudantes de STEM. Isto é problemático por duas razões principais. Em primeiro, porque as áreas STEM estão a ganhar relevância rapidamente e se as mulheres não as estudarem, não terão acesso a trabalhos nessas indústrias. Segundo, as posições em áreas STEM são das mais bem pagas em todo o mundo e se as mulheres não lhes puderem chegar, devido à falta de formação ou competências, a desigualdade salarial entre géneros só poderá aumentar. 

É possível atribuir a falta de mulheres em áreas STEM a estes três motivos: a falta de autoconfiança, os estereótipos relacionados com profissionais da tecnologia e cultura do domínio masculino. Estas estatísticas de 2020 ajudam a destacar a gravidade desta desigualdade: 

  • As mulheres constituem apenas 16% dos destinatários das licenciaturas em serviços informáticos e de informação, 21% em engenharias, 27% em economia e 38% em física. 

  • As mulheres detêm menos de 20% dos cargos de liderança na tecnologia.

  • 19% dos vice-presidentes séniores e 15% dos CEO são mulheres.

  • 39% das mulheres na tecnologia percecionam os preconceitos de género como impedimento de obtenção de uma promoção

  • 34% dos trabalhadores da Apple são mulheres e só 24% dos seus cargos técnicos são ocupados por mulheres. 

  • Durante a pandemia de COVID-19, a probabilidade de as mulheres abandonarem os seus trabalhos, pedirem licenças ou de serem despedidas aumentou para quase duas vezes mais

A desigualdade de género e a liderança e empreendedorismo tecnológicos 

Como já abordámos os obstáculos que as mulheres enfrentam ao entrar em áreas tecnológicas, esta secção focar-se-á nos problemas já observados pelas que já estão na indústria, especialmente no que toca a promoções. É frequente as mulheres enfrentarem problemas nos quais os homens nem sequer pensam, como assumir responsabilidades de cuidadores, a falta de modelos e de outras mulheres com funções semelhantes e uma pressão acrescida para provarem as suas capacidades. 

Mesmo sendo as mulheres a constituírem 40% dos empreendedores precoces, os homens continuam a ter tendência a começar mais negócios do que as mulheres. Ao inquirir empresários, foi-nos possível concluir que há mais probabilidade de as mulheres criarem negócios para fazer a diferença ou devido à falta de emprego, enquanto os homens o fazem para criar riqueza ou continuar uma tradição familiar. Só 2,7% das mulheres estão envolvidas em start-ups tecnológicas, em comparação com 4,7% dos homens. 

A desigualdade de género por país 

As estatísticas mundiais podem ajudar-nos a ficar com uma ideia da desigualdade de género geral na tecnologia, mas é essencial olhar para os dados de cada país para obter uma imagem mais clara de cada mercado, as suas áreas de melhoria e as ações específicas a fazer para chegar à paridade de género. 

Reino Unido

Há cinco milhões de pessoas a trabalhar na indústria tecnológica no Reino Unido, mas só 17% dessas funções são ocupadas por mulheres. Porém, se olharmos para a mão de obra do Reino Unido, veremos que as mulheres constituem 49% dos trabalhadores totais. É precisamente a esta diferença entre o número de mulheres empregadas e mulheres empregadas na tecnologia que chamamos desigualdade de género

Este problema começa mesmo antes de as mulheres entrarem para a mão de obra: só 35% dos estudantes do ensino superior de STEM, no Reino Unido, são mulheres. Ao olhar para este problema, podemos identificar três motivos: 

  1. Há menos probabilidade de as raparigas optarem por estudar áreas STEM. Isto deve-se a algumas razões: numa indústria tão marcada pela presença masculina, as raparigas não conseguem identificar modelos ou um lugar para si mesmas. Os professores estão também mal preparados para mostrar às raparigas as possibilidades de cargos tecnológicos e, por isso, nem sequer são encorajados a promover a existência de raparigas em áreas STEM. 33% dos homens receberam sugestões de carreiras tecnológicas enquanto só 16% das mulheres podem dizer o mesmo. 

  2. As raparigas não poderão ter carreiras tecnológicas. As raparigas apresentam uma maior probabilidade do que os rapazes de considerar a sua carreira futura com base nos exames e quando não veem uma carreira no ensino como uma probabilidade, não entram em cursos de STEM. 

  3. Há falta de modelos femininos. A representação é absolutamente essencial. As raparigas que não encontram mulheres líderes na tecnologia, vendo em vez disso uma grande maioria de homens, não verão a possibilidade de fazer uma carreira tecnológica. 

Estes números estão diretamente relacionados com os salários. De acordo com o UK Tech Workplace Equality Report [Relatório de igualdade nos locais de trabalho tecnológicos no RU], o salário médio dos trabalhadores na área tecnológica é de 66 000 £ enquanto o das trabalhadoras é de 63 000 £

Para combater esta desigualdade e encorajar mais mulheres a juntarem-se à indústria tecnológica, houve algumas empresas britânicas que contrataram mentores de capacitação para ajudar as mulheres a ganharem confiança, quando se candidatam a trabalhos, para pedir o melhor salário, para falarem sobre assédio e outros assuntos e para começarem novos trabalhos. Contudo, isto não é uma decisão pessoal que as mulheres estão a tomar, mas sim um problema sistémico da sociedade e para corrigir isto, é necessário que toda a sociedade tenha uma abordagem proativa. 

Estados Unidos

O mercado tecnológico do EUA emprega apenas 26% de mulheres, apesar de terem uma divisão quase igualitária em toda a mão de obra (49%). Apesar de 45% dos mestres em STEM serem mulheres, só 22% e 20% obtiveram uma licenciatura em engenharia e em ciências informáticas, respetivamente. Dois anos a recolher dados puderam ajudar-nos a determinar qual a origem deste problema: 

  1. Há poucos modelos femininos. Visto que a indústria tecnológica é amplamente administrada e constituída por homens, as raparigas não se conseguem ver como futuras trabalhadoras na tecnologia. 

  2. Os estereótipos prevalecem na tecnologia. Há imensas raparigas que são afastadas da tecnologia, por causa de estereótipos e ideias, que promovem a tecnologia como uma carreira para homens e que lhes dizem que devem seguir percursos mais “femininos”. 44% das mulheres inquiridas entre os 18 e os 28 anos nunca receberam informações sobre formas como entrar na tecnologia. Só 33% dos homens concordaram. 

  3. A indústria de STEM é hostil para as mulheres. As mulheres em STEM relataram sentir-se isoladas, sendo alvo de microagressões e sentindo-se pouco confiantes no local de trabalho. Além de as suas opiniões não serem ouvidas no trabalho, estas são as razões pelas quais as mulheres não escolhem a tecnologia ou acabam por optar por sair da indústria. 

Há outro problema que ocorre quando as mulheres entram de facto na mão de obra. 38% das mulheres com licenciatura em ciências informáticas estão a trabalhar na indústria, em comparação com 53% dos homens. As engenharias têm dados semelhantes. As mulheres também sentem que o teto de vidro, uma barreira metafórica que impede as mulheres e as minorias de avançarem como os homens, as está a impedir de deter cargos de liderança. 48% das mulheres detêm as contratações de entrada, mas apenas 40% detêm funções de gestor de primeiro nível. Esta desigualdade cresce ainda mais à medida que a função de liderança ganha mais importância. 

Porém, os dados são promissores. A National Science Foundation relata que há mais mulheres do que antes a obter licenciaturas em áreas STEM. À medida que a Geração Z entra na universidade e na mão de obra, espera-se ver cada vez mais e mais mulheres a juntarem-se à indústria, graças ao seu estatuto membros da primeira geração nativa do digital.

Espanha

Em Espanha, só 20,6% dos trabalhadores tecnológicos são mulheres. E no setor tecnológico, o número de profissionais necessários duplica a cada ano, deixando um grande vazio para as mulheres entrarem na tecnologia. Contudo, em Espanha, as mulheres ganham 9,4% menos do que os homens. Pode não parecer assim tanto, mas significa que anualmente trabalham sem receber durante 34 dias. 

Como mencionámos, a falta de mulheres na tecnologia origina problemas que ocorrem muito antes de as mulheres entrarem na mão de obra. Só 35% dos estudantes do ensino superior em STEM são mulheres e só 3% estudam Tecnologia da Informação e Comunicação e outras matérias relacionadas com a mesma. As mulheres constituíam 55,3% de todos os estudantes de 2020-2021, mas só 29% delas estavam em cursos de engenharia e 13,4% em cursos de ciências informáticas. Curiosamente, porém, a ciência é um ramo dominado por mulheres em Espanha. 75% dos estudantes de biomédica, 68,7% dos estudantes de medicina, 65,8% dos estudantes de bioquímica e 61,7% dos estudantes de biotecnologia são mulheres. Em contrapartida, nas carreiras tecnológicas, especificamente, 87% dos homens estão em telecomunicações, 74% nos setores industriais e 73% em física.

A grande distinção prende-se às diferenças de socialização entre os rapazes e as raparigas. Há fortes estereótipos relacionados com o género a dominar a vida das crianças espanholas, sendo que é esperado que os rapazes façam invenções e cálculos, enquanto as raparigas assumam papéis mais ligados a funções de assistência. 

As mulheres constituem apenas 20% do ecossistema das start-ups espanholas e este número não se alterou desde os últimos oito anos. 51% das mulheres são multiempresárias; 62% são homens. 42% das mulheres relatam ter tido uma aventura anterior falhada de empreendedorismo e só 24% dizem ter vendido uma start-up com sucesso, em comparação a 33% dos homens. Contudo, Espanha é o país com mais mulheres em cargos executivos em start-ups de FinTech da Europa (25%). 

Espanha está a dar verdadeiros passos na diminuição da desigualdade de género. Em 2012 havia uma desigualdade salarial de 18,7%, que é quase 10% mais elevado que o valor atual. Além disso, o governo espanhol está a esforçar-se por garantir que haja um pagamento igual através do seu Real Decreto 902/2020, que explica aos trabalhadores o que é a desigualdade salarial e a discriminação salarial, fazendo com que haja transparência em todas as empresas. 

Alemanha

17% dos cargos tecnológicos na Alemanha são detidos por mulheres, apesar de haver uma percentagem quase igual de mulheres e homens na mão de obra. Apesar de constituírem mais de metade da população universitária (52%), as mulheres constituem apenas 35% dos estudantes de STEM. 

Os estereótipos negativos contribuem para que as alemãs sintam relutância em entrar na indústria tecnológica adicionalmente a níveis mais baixos de digitalização para mulheres que tem os seguintes efeitos: 

  • Acesso limitado à informação

  • Oportunidades complexas de trabalho

  • Eficiência reduzida da indústria 

  • Desigualdade acrescida entre diferentes grupos socioeconómicos 

  • Risco aumentado de cibercrimes 

Um inquérito da Microsoft demonstra que as raparigas interessam-se por áreas STEM aos 11 anos, mas que mudam de ideias aos 15 e a principal razão para isto acontecer é a falta de modelos. Além disso, a desigualdade salarial de género na Alemanha é a pior da Europa. Os trabalhadores tecnológicos ganham aproximadamente mais 15 000 € por ano do que as suas colegas mulheres que exercem a mesma função. No setor da engenharia, por exemplo, os especialistas acreditam que as mulheres se encontram socialmente condicionadas a escolher indústrias com salários mais baixos e estão mais dispostas a aceitar trabalhos a tempo parcial. As mulheres também deixam a indústria tecnológica mais cedo que os homens. Aos 45 anos, só 9% das mulheres continuam no setor tecnológico. 

No ecossistema das start-up, as alemãs sentem dificuldade na obtenção de financiamentos e de apoio para as ajudar a gerir o equilíbrio entre a sua vida profissional e a pessoal. Na verdade, 63% das start-ups são totalmente fundadas por homens e só 6% das fundadoras são business angels ativas. 

O que a Alemanha precisa agora é de uma abordagem focada na igualdade que tenha como objetivo a eliminação de barreiras estruturais e culturais para as mulheres. 

Portugal

Um dado importante sobre a mão de obra em Portugal é que a desigualdade salarial entre homens e mulheres na tecnologia e entre homens e mulheres em todas as outras indústrias é bastante semelhante, o que significa que escolher uma carreira no setor da tecnologia não é uma decisão tão financeiramente arriscada como noutros países. Apesar de a desigualdade salarial não ser tão acentuada como noutros países, os trabalhadores tecnológicos ganham, em média, 16% mais do que as trabalhadoras na mesma função. Isto impede as mulheres de entrarem na indústria. Só 18% dos profissionais tecnológicos são mulheres. Muitas referem as oportunidades limitadas de crescimento e os salários baixos como razões para evitar ou deixar a indústria. 

Vários dos seus países vizinhos apresentam uma falta de representação feminina grave em cursos STEM no ensino superior, mas Portugal tem, na verdade, uma maioria feminina inscrita em cursos STEM de 57%. Contudo, esta percentagem começa a baixar à medida que os cursos se começam a tornar mais avançados, sendo que as estudantes revelam não se sentir incluídas ou integradas nos cursos. Da mesma forma, as estudantes revelaram trabalhar em departamentos com uma ou duas mulheres para cada dez homens e 10% trabalham num departamento sem mulheres. 

Os grupos como o Portuguese Women in Tech [Mulheres Portuguesas na Tecnologia] e o seu PWIT Salary Transparency Project [Projeto de Transparência Salarial] estão a trabalhar para diminuir estas desigualdades e educar a população em geral sobre estas questões. Estes problemas provêm de uma falta geral de diversidade no local de trabalho e dado que a tecnologia continua a impulsionar a economia portuguesa, as mulheres terão um papel importante.

Países Baixos

A indústria tecnológica nos Países Baixos é há muito tempo considerada como uma área dominada por homens, mas começa agora a abrir-se para as mulheres. Na indústria digital, as mulheres representam 38% da mão de obra total, no entanto este número cai para só 18% no setor de TI. E só 36% das mulheres detêm funções de liderança (25% delas são CEO). No que se refere a empresários, este número subiu de 2% para 8% desde 2005. 

O secretismo à volta da diversidade, da inclusão e dos salários também não ajuda o setor tecnológico neerlandês a atrair mulheres. 88% das empresas não falam sobre os seus salários e 99% não têm uma estratégia pública para diminuir a desigualdade salarial de género nos Países Baixos. O facto de as empresas não serem transparentes relativamente aos salários, às práticas de igualdade e à sua diversidade pode promover estereótipos, mitos e informações desadequadas e deter ainda mais as mulheres de entrar na indústria tecnológica. 

Os Países Baixos sofrem de visões e normas específicas da sociedade sobre o género, a educação e as opções de carreira que limitam seriamente as opções das mulheres. Curiosamente, as indústrias dominadas por mulheres como a saúde (70%) e a educação (48%) são caraterizadas maioritariamente por trabalhadoras que trabalham a tempo parcial, sendo que mais de metade das mulheres nesta situação fazem-no por causa de obrigações relacionadas com o cuidar dos filhos, com tarefas domésticas e cuidados informais; somente 27% dos homens se identificam com esta postura. Estas visões da sociedade também impactam as opções educativas feitas pelos jovens estudantes neerlandeses. Os Países Baixos têm um dos valores mais baixo de mulheres em áreas STEM da Europa e a falta de modelos femininos, para além dos estereótipos antigos e das crenças sexistas, faz com que a entrada no setor tecnológico seja pouco atrativa para as mulheres. 

Apesar de parecer que estes problemas são intransponíveis, a chave do sucesso para a indústria tecnológica neerlandesa reside nas mulheres. Se as mulheres tivessem a mesma taxa de participação na mão de obra que os homens, o PIB nacional poderia crescer até 100 mil milhões de euros. Para chegar aqui a PwC sugere a criação de opções de networking para as mulheres na indústria, a atribuição de novas competências às mulheres, a partilha de histórias de sucesso com modelos que sejam mulheres, a promoção de ambientes inclusivos e o foco na contratação e formação de mulheres para cargos tecnológicos. 

Brasil

Apesar de o Brasil afirmar ter 39% dos cargos na indústria tecnológica a serem ocupados por mulheres, é necessário fazer uma grande distinção: só 20% destas mulheres têm posições relacionadas com a tecnologia, sendo que a maioria tem cargos de apoio ou administrativos. Até 1964, as brasileiras não tinham acesso às suas finanças e até 1963 nem podiam ter identificação, o que limitava o seu acesso a contas bancárias. A independência financeira é algo ao qual as brasileiras ainda se estão a habituar.

Graças aos fortes estereótipos sociais, a indústria tecnológica brasileira tem falta de diversidade de género e racial; as mulheres negras estão fortemente subrepresentadas. Os estudos mostram que os escritórios com mais diversidade e mais inclusivos são, de um modo geral, mais produtivos e positivos, visto que os trabalhadores se sentem valorizados e capacitados. Assim como em vários países da América Latina, os estereótipos que existem no Brasil são fortes e difíceis de mudar. É expectável que as mulheres se tornem enfermeiras e os homens engenheiros. 

Em 2019, só 26% das pessoas com licenciaturas em áreas STEM eram mulheres. Eis algumas mudanças que as empresas poderiam realizar para promover a diversidade e a inclusão: 

  • Assegurar que as descrições das vagas usam linguagem inclusiva

  • Fazer entrevistas anónimas para excluir preconceitos conscientes ou inconscientes

  • Fornecer formação para ajudar os trabalhadores a identificar e a reportar incidentes 

  • Promover o equilíbrio entre a vida pessoal e a profissional, de modo que as mulheres não sintam que estão a falhar nas responsabilidades domésticas, caso decidam trabalhar

A verdade é que estas técnicas não só irão ajudar as mulheres, como também irão melhorar a experiência em geral não só em relação ao local de trabalho como à satisfação com o trabalho. No que toca à liderança no feminino, há 20 vezes mais empresas fundadas por homens do que empresas fundadas por mulheres, sendo que as que são fundadas por mulheres demoram mais tempo a crescer e estão limitadas em termos de conquistas. Se houver um desequilíbrio do número de mulheres em posições de liderança, será mais difícil as raparigas se imaginarem na tecnologia e escolher estudar setores relacionados com as áreas de STEM. 

Mas as mulheres precisam de mais do que um empurrão para entrar na tecnologia. As raparigas brasileiras necessitam de formação e de capacitação adequadas para sentirem que pertencem ao setor da tecnologia e que as opções de sucesso e liderança também lhes são possíveis. 

França

Apesar do crescimento nunca antes visto no cenário tecnológico francês e da grande escassez de talentos, as mulheres constituem apenas 20% do total de trabalhadores na indústria. Estes dados apresentam uma melhoria desde 2020, em que o valor era apenas 17%, mas ainda há um longo caminho a percorrer. Só 12% dos fundadores de start-ups francesas são mulheres e só 11% têm funções executivas. Os fundos que recebem para financiar as suas start-ups são também menos que os fornecidos a start-ups fundadas por homens, o que não encoraja as mulheres a se aventurarem no empreendedorismo tecnológico. 

Além disso, 46% das mulheres no setor da tecnologia relatam ter experienciado comportamentos sexistas, como por exemplo, piadas com base no género. A falta de mulheres na tecnologia geralmente origina menos inovação e uma cultura menos inclusiva. Outras mulheres têm receio da síndrome do impostor, de sentir que não pertencem a determinado contexto ou de enfrentar estereótipos injustos. Contudo, há organizações como a La French Tech que estão a trabalhar para combater isto com o seu 2022 Parity Pact [Pacto da Paridade de 2022], que tem como objetivo assegurar o seguinte nas suas empresas-membro: 

  • Atingir um mínimo de 20% de mulheres no conselho de administração da empresa até 2025 e 40% até 2028;

  • Formar todos os gestores para a diversidade e inclusão e para a luta contra a discriminação e o assédio. 

  • Garantir que as descrições de todas as vagas publicadas se destinem a homens e mulheres. 

A partir de 2023, as empresas que se candidatem ao French Tech Next 40/120 e grandes empresas com potencial entrada no índice de ações CAC 40 devem comprometer-se a trabalhar para melhorar a desigualdade de género e serem monitorizadas relativamente à a igualdade de género. 

México

No México, a desigualdade de género na tecnologia provém de um problema ainda mais sistémico: das competências digitais e do acesso à Internet da população em geral e, obviamente, das mulheres. Quando comparado com outros países, no que toca à desigualdade de género na tecnologia, o México tem uma pontuação bastante mais baixa que a média global. Isto acontece porque o acesso ao mundo digital varia significativamente de estado para estado, havendo zonas rurais com níveis de acesso extremamente baixos. 

Genericamente, os homens têm mais competências digitais do que as mulheres e isto vai desde o nível mais básico até ao mais avançado, desde enviar um e-mail a digitar codificação. Em mulheres acima dos 36 anos, a desigualdade aumenta ainda mais; contudo, as raparigas e as mulheres entre os 16 e os 25 anos são as que têm mais literacia digital, ou seja, esta é a oportunidade perfeita para acolher mais mulheres na tecnologia. Só 12% dos universitários licenciados em tecnologia são mulheres e só 10% das mulheres com uma licenciatura em setores relacionados com o STEM é que realmente trabalham na área. 

No México, 44% das mulheres fazem parte da mão de obra, em comparação com 77% dos homens. No que toca a cargos de gestão, só 9% das empresas digitais e tecnológicas têm mulheres a ocupar cargos de liderança e só 23% têm mulheres como cofundadoras. A perspetiva não é muito mais positiva em termos de salários: os homens que são programadores de software conseguem ganhar mais 26% do que as mulheres com as mesmas competências e experiência. É possível atribuir a falta de mulheres na mão de obra a alguns fatores: 

  • Independência financeira: há poucas mulheres com independência financeira no México e tirar um curso adicional ou começar uma nova carreira significaria fugir às suas responsabilidades de cuidar dos filhos e da família.

  • COVID: O México perdeu 1,1 milhões de trabalhadores devido ao COVID e as mulheres tiveram de lidar com imensos lay-offs, além de terem de assumir responsabilidades acrescidas de cuidados familiares. 

  • Trabalho doméstico não-remunerado: os estudos mostram que as mexicanas, independentemente do seu estatuto socioeconómico, dedicam mais de 30 horas semanais a trabalhos e cuidados domésticos não remunerados.

Apesar dos problemas que as mexicanas enfrentam na tecnologia, há muitas empresas que estão a avançar no sentido de se atingir a paridade de género. O Women in Digital Award [Prémio das Mulheres no Digital] foi atribuído, pela primeira vez em 8 de março de 2022, a Salma Jalife Villalón, presidente do Centro México Digital, o qual publica relatórios anuais sobre a indústria digital e tecnológica. A Confederación Patronal de la República Mexicana atribui bolsas de estudos às mulheres para promover o teletrabalho e o desenvolvimento de competências digitais. O NIÑASTEM PUEDEN trabalha para promover a tecnologia entre as raparigas e a Código X trabalha em todos os níveis académicos para encorajar as mulheres e as raparigas a participar na tecnologia. 

O futuro são as mulheres na tecnologia

Pode ser assustador dar aquele primeiro passo na tecnologia, especialmente como mulher. Mas não se preocupe. É uma excelente escolha que trará benefícios tanto para si como para as gerações futuras. Se não sabe por onde começar, veja algumas das ações que pode fazer para enveredar pela tecnologia: 

  • Crie uma rede forte: use o LinkedIn, os seus contactos da universidade ou as pessoas que já conhece no setor tecnológico para a ajudar a ganhar confiança, receber aconselhamento e apoio de outras mulheres que já trabalham no setor tecnológico. 

  • Seja persistente e resiliente: haverá sempre desafios ao longo do caminho e poderá sentir-se por vezes desmotivada, mas lembre-se de pedir ajuda, continuar a aprender e continuar a seguir os seus objetivos. 

  • Lembre-se que tem um lugar na tecnologia: as mulheres estão destinadas a fazer parte da tecnologia e de qualquer área. Mesmo que não veja assim tantas mulheres, elas estão lá e prontas a juntar-se a si.

  • Seja a sua própria promotora: tenha consciência do seu valor e peça promoções, aumentos e novas oportunidades e qualquer outra coisa que pretenda fazer no trabalho. O seu lugar é na tecnologia e é capaz de atingir o que quiser. 

Como pode ver, os problemas que as mulheres enfrentam na tecnologia variam de país para país, mas há questões gerais que são uma constante em todo o mundo. Falámos com alguns especialistas internacionais sobre os sete maiores desafios a nível mundial e aquilo em que a sociedade se pode focar para os combater. 

Eliminar preconceitos de género desde a infância

A desigualdade de género começa na infância e de formas bastante inócuas: dar bonecas às meninas para brincar e carrinhos e Legos aos rapazes promove comportamentos diferentes e, nesse caso, condiciona a forma como ambos escolhem os seus percursos profissionais futuros. Se as crianças percecionarem um maior número de mulheres em cargos de enfermagem ou de cuidados e mais homens em cargos de decisões importantes vão achar que é este o percurso que têm de fazer. Também com mais frequência são dados aos homens os cargos mais arriscados em atividades de grupo, dando assim às mulheres tarefas mais seguras, como a organização, o design ou os detalhes. 

Há muitos países que já se começaram a debruçar sobre isto, mas assegurar que as crianças são criadas em ambientes mais neutros, em termos de género, sem que haja expetativas sociais baseadas no género, pode ajudar a expandir os horizontes das crianças e a prepará-las para quaisquer cargos que pretendam.

Desenvolver a autoconfiança das mulheres

Eis alguns dados rápidos: as mulheres têm mais tendência a candidatar-se a trabalhos só quando têm a certeza de que cumprem, pelo menos, 90% dos requisitos, enquanto os homens se candidatam mesmo que não os cumpram. Isto pode ter origem nas expetativas da sociedade. Os homens são encorajados a arriscar e a não terem medo de falhar, enquanto as mulheres são mais cautelosas. Além disso, as mulheres podem vir a enfrentar diferentes tipos de escrutínio no trabalho e ser questionadas sobre os seus planos familiares, estado civil ou outros assuntos relacionados apenas com as mulheres. 

O aumento do foco na imparcialidade no processo de entrevista e a linguagem inclusiva poderão ajudar as mulheres a sentirem-se mais confortáveis quando enfrentam novas situações. As empresas que oferecem licenças de maternidade e paternidade, apoiando ambos os pais de forma igual, podem ajudar a combater os estereótipos. 

Criar mais modelos femininos na tecnologia  

As mulheres têm falta de modelos e de exemplos de mulheres bem-sucedidas na tecnologia. Quando as mulheres veem que as maiores empresas tecnológicas são dominadas por homens, poderão ter dificuldade em se sentirem motivadas. Contudo, as associações e comunidades femininas podem ajudar as mulheres a relacionarem-se com outras trabalhadoras no setor das tecnologias e a aceder a recursos, ferramentas e programas de mentoria. 

As empresas também se podem esforçar por dar mais oportunidades às mulheres, oferecer bolsas de estudo e fornecer mentorias às mulheres. 

Criar um equilíbrio entre a vida profissional e a vida pessoal

As mulheres são afetadas de forma desproporcional pelas responsabilidades domésticas e familiares e isto pode fazer com que tenham de trabalhar a tempo parcial ou até deixar o mercado de trabalho. Fornecer às mulheres opções de trabalho híbrido ou remoto, além de ajuda nos cuidados infantis e licenças parentais flexíveis, podem tornar os cargos tecnológicos possíveis para muitas mais mulheres. 

A desigualdade de género na tecnologia pode ser intimidante, mas o importante é que está a melhorar a nível mundial e cada vez mais os países estão a tomar medidas para assegurar que todas as mulheres tenham acesso à formação tecnológica e às mesmas oportunidades de carreira que os homens. 

O futuro são as mulheres na tecnologia; portanto, eis um facto: chegar à paridade de género na tecnologia e em todas as áreas irá melhorar a vida em geral para toda as pessoas em todos os setores.

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